sábado, 18 de junho de 2011

Resenha do filme:O QUE É ISSO COMPANHEIRO

RESENHA
Silviano Santiago romancista, ensaísta, poeta, contista e professor, uma das mais prolíficas e brilhantes figuras da literatura brasileira. É autor de livros importantes como Em liberdade, considerado um dos dez melhores romances brasileiros dos últimos 30 anos, e Stella Manhattan, ambos os temas constantes em teses de mestrado e doutorado nas universidades brasileiras, latino e norte-americano. Silviano é graduado em Letras Neolatinas pela Universidade Federal de Minas Gerais, doutor pela Universidade de Paris - Sorbonne. Lecionou em universidades de renome internacional, como as de Yale, Stanford, Texas, Indiana e Toronto. Atualmente, é professor aposentado de Literatura Brasileira da Universidade Federal Fluminense. Escreve nos principais veículos da imprensa brasileira. Vários dos seus livros encontram-se traduzidos, dentre outros artigos e textos, escreveu sobre a democratização no Brasil. Neste artigo Silviano faz uma abordagem visando um corte de hierarquias na dicotomia alta e baixa cultura, uma vez que situa o início do processo de abertura democrática como época em que a arte passa a ter de vez uma dominante antropológica e cultural em vez de sociológica e literária. A absorção da arte erudita pela indústria cultural é responsável pela não mais separação entre o erudito, o popular e o pop. Época do regime militar no Brasil. Podemos definir a Ditadura Militar como sendo o período da política brasileira em que os militares governaram o Brasil. Esta época vai de 1964 a 1985. Caracterizou-se pela falta de democracia, supressão de direitos constitucionais, censura perseguição política e repressão aos que eram contra o regime militar. Mas isto não surgiu da noite para o dia, foi um processo político, que favorecia a classe dominante que não queria perder o poder para os comunistas. A crise política se arrastava desde a renúncia de Jânio Quadros em 1961. O vice de Jânio era João Goulart, que assumiu a presidência num clima político adverso. O governo de João Goulart (1961-1964) foi marcado pela abertura às organizações sociais. Estudantes, organizações populares e trabalhadores ganharam espaço, causando a preocupação das classes conservadoras como, por exemplo, os empresários, banqueiros, Igreja Católica, militares e classe média. Todos temiam uma guinada do Brasil para o lado socialista. Vale lembrar, que neste período, o mundo vivia o auge da Guerra Fria. Este estilo populista e de esquerda, chegou a gerar até mesmo preocupação nos EUA que junto com as classes conservadoras brasileiras, temiam um golpe comunista. Os partidos de oposição, como a União Democrática Nacional (UDN) e o Partido Social Democrático (PSD), acusavam Jango de estar planejando um golpe de esquerda e de ser o responsável pela carestia e pelo desabastecimento que o Brasil enfrentava. No dia 13 de março de 1964, João Goulart realiza um grande comício na Central do Brasil (Rio de Janeiro), onde defende as Reformas de Base. Neste plano, Jango prometia mudanças radicais na estrutura agrária, econômica e educacional do país. Seis dias depois, em 19 de março, os conservadores organizam uma manifestação contra as intenções de João Goulart. Foi a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, que reuniu milhares de pessoas pelas ruas do centro da cidade de São Paulo. O clima de crise política e as tensões sociais aumentavam a cada dia. No dia 31 de março de 1964, tropas de Minas Gerais e São Paulo saem às ruas. Para evitar uma guerra civil, Jango deixa o país refugiando-se no Uruguai. Os militares tomam o poder. Em nove de abril, é decretado o Ato Institucional Número 1 (AI-1). Este cassa mandatos políticos de opositores ao regime militar e tira a estabilidade de funcionários públicos, Rio de Janeiro, meados de 1969. Após o golpe militar de 1964 e o decreto do AI-5 (Ato). Institucional n.º 5, de 1968, que estabelecia o fim da liberdade de imprensa e cassava os direitos dos cidadãos.
Baseado no livro homônimo de Fernando Gabeira, "O que é isso, companheiro?" é um filme que aborda fatos verídicos da realidade política brasileira na década de 60, que culminaram na anistia, em 1979, e nas eleições diretas para presidente em 1989. Ao fazer uma reflexão sobre o livro Patrulhas ideológicas, Silviano Santiago busca uma saída para a cultura do ressentimento que se formava nos anos pós-ditadura militar. O conteúdo do livro seria usado por uma geração que, preocupada em documentar o sofrimento dos anos de prisão e exílio, não soube ver a hora de preencher o vazio cultural com uma linguagem inovadora e descompromissada com o passado. Afinal, o tempo de abertura democrática e do fim da censura seria o tempo de encarar novos problemas e soluções, e de se deixar de lado o tempo sombrio por que havíamos passado. "O Que E' Isso, Companheiro?", de Bruno Barreto, e' um dos melhores."thrillers" (filme de ação emocionante) em muitos anos, paradoxalmente porque ele resiste a exagerar a dramaticidade ao contar o seqüestro em 1969 do embaixador americano no Brasil por estudantes revolucionários. Embora este acontecimento ainda tenha poderosa ressonância nas vidas de Barreto e dos brasileiros, a forca do filme e' seu equilíbrio. Embora não se possa negar que ele idealiza e glamoriza os estudantes, o filme nunca perde de vista o.fato de que se trata de amadores brincando com algo perigoso. Mesmo os dois terroristas profissionais trazidos de São Paulo para controlar a nova célula não resistem a demonstrar condescendência. "No que lhes diz respeito, os cinco personagens que se dizem revolucionários protestando a repressão e o estreitamento do quadro de justiça social do governo militar brasileiro são diletantes que não passaram ainda por uma prova de fogo. Uma grande razão pela qual o incidente não termina de maneira mais sangrenta e' que a policia, embora servindo a uma ditadura militar e tendo um torturador entre seus membros demonstrou ter cautela. Ironicamente, a rabugice do líder da célula prova-se correta quando a policia descobre onde estão porque nenhum deles sabe cozinhar e o fato de que compram grandes quantidades de "fast" food" (comida preparada?) chama atenção para eles. "O filme de Barreto e'. livremente baseado nas memórias escritas na Suécia dez anos depois por um dos terroristas (que depois voltou ao Brasil, para liderar o partido verde). A surpresa e' o grau de tolerância dado a Alan Arkin para retratar a dignidade, inteligência liberal e simpatia do embaixador. E' uma atuação emocionante, que impressiona sob todos os pontos de vista. Os estudantes, cujo idealismo em enfrentar um regime militar e' corajoso, são retratados como motivados por instintos humanitários. Pedro Cardoso, representando o membro da célula cujo livro serve de base para o filme, aparece como um fracote cuja inaptidão bem intencionada como motorista e atirador faz com que os outros o deixem para trás quando ha.' perigo a vista. "Mesmo assim, e' ele que tem mais imaginação e alcance intelectual. E' ele quem tem a idéia do seqüestro, e os outros acatam sua habilidade como escritor e esperteza na manipulação dos meios de comunicação para dar voz a sua causa. E' ele também quem desenvolve as duas únicas relações que existem no filme e que merecem ser mencionadas - uma que se refere ao relutante respeito mutuo envolvendo o prisioneiro que estão guardando e que ele espera não ser obrigado a matar, e outra mais sexualmente complicada com Fernanda Torres, sua companheira, mais dura e implacável do que ele, mas que, ao fim, chega a confessar-lhe seu medo, e a admitir mesmo que preferiria ser feita prisioneira do que ser morta em luta. "Num filme que inevitavelmente permite que uma teoria política artificial substitua a conversação (sem duvida refletindo a atmosfera do esconderijo), "O Que E' Isso, Companheiro?" faz crescer a tensão com habilidade e credibilidade sem cair nos lugares comuns da violência dos filmes de ação emocionante.Embora simpatize com os ativistas de esquerda (o Maximo que ele concede ao outro lado e' um torturador que tem dificuldade em dormir), Barreto não os admira cegamente, embora os faca mais simpáticos ao tornar aparentes seus defeitos e deficiências. Sua recusa à polarização e' rara em filmes politicamente comprometidos, o que da' ao filme uma estatura mais alta. A necessidade de deixar que passe o tempo para que se adquira perspectiva histórica e' algo que merece ser dito. 
¹ estudante do curso de letras das FJA, e professor voluntário do pré vestibular das FJA.
²estudante do curso de letras das FJA.